segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

PORTO BELO ATÉ TIJUCAS DE CAIAQUE









Resgate na praia da Ponta Grande


Texto: Germano Greis
Fotos: Fernando Bueno




O carro ficou na estrada porque  o problema era a bateria e não tinha o quê fazer naquela hora. Tratei de voltar para a praia a fim de montar o acampamento. 
Com a lanterna de cabeça na mão iluminava mais próximo do chão e cuidava para não chutar uma daquelas pedras salientes no meio do caminho. Pior seria se mais alguma coisa acontecesse.
Depois de uma de uma hora caminhando voltei à praia e encontrei o Bueno que descansava da longa caminhada da tarde encostado nas tralhas e em frente a uma fogueira. Ele estava com os tornozelos inchados e muito doloridos. 

Liguei do celular para minha esposa e contei o que acontecera. Pedi que ela ligasse para o Luciano, que estava em Florianópolis, para ele nos trazer uma bateria e expliquei onde teria que nos encontrar. Confirmei mais tarde noutra ligação e desliguei o celular.

Começamos montar as barracas e pensava em providenciar uma janta. Mas, eu estava preocupado com os latidos que vinham lá da casa do sr. Newton. Sabia que deveriam ser da cachorra com um filhote que tinha sido bem amigável quando levei o galo de volta. Certamente ela ouvia minha voz no meio da escuridão e, como tenho cães de estimação,  eu pudia entender o que ela queria dizer. 

Não havia ninguém mais naquele lugar e as casas fechadas, os animais  amarrados, e, quem sabe, sem comida e sem água.  Já era tarde e podia ser que ninguém mais chegasse  por aquela estrada.  Então eu convidei Bueno para irmos até lá verificar o que estaria faltando para os cães. 


Chegando lá vimos que eles tinham água mas, poderiam estar com fome e se sentindo abandonados. Eu fiquei muito revoltado em ver como eram tratados aqueles animais, amarrados em um toco de corda que mal podiam sair  fora de suas coberturas improvisadas. Tive vontade de soltá-los mas,  resolvi não interferir, afinal,  isso poderia trazer complicações enquanto estivéssemos por lá.

Voltamos para as barracas e tratei de cozinhar um pouco de massa e misturei uma lata de sardinha. Levamos para os três cães e eles fizeram uma festa. Aquela com o filhote parecia muito meiga e eu a chamava de Branquinha. 
Eu fico pensando porque o ser "humano" trata os cães dessa forma?

Depois disso Bueno se recolheu e eu fui preparar uma sopa de pacotinho e,  para acompanhar, uma fatia de pão. Mas, quando procurei pelo pão não o encontrei. Logo me dei conta que esse era o motivo do saco da comida estar longe de onde eu havia deixado quando chegamos de volta lá da casa:  o pacote com o pão quase inteiro havia sido levado.

Eu deduzi que só podia ser aquele cachorro amarelo que atacou o galo pois, ele andava solto por lá. Por conta do ataque ao galo e porque já havia latido para mim durante a tarde, eu não fiz questão de lhe dar massinha com sardinha. Claro que ele se vingou depois.

Quando amanheceu tomamos um café com bolachinhas que ainda restavam na dispensa do Bueno, organizei o meu acampamento  e só deixei a barraca montada. Juntei protetor, repelente, lanterna água e sai na estrada para encontrar o Luciano. Pretendia encontrá-lo  no final da estrada (ou no início) na primeira vila de Tijucas. Bueno fez questão que eu levasse uma taquara para servir de "bastão de trekking" o quê foi uma ideia muito boa.

Saí  com bastante tempo para chegar antes do Luciano
.
A estrada é bastante ruim com todas aquelas pedras, valetas e lombas que sobem e que descem tem o lado  bom que é praticamente coberta de mato e várias cachoeiras cruzando a estrada sob boeiros.  Dava para juntar água bem geladinha entre as pedras nas margens da estrada.

Lembrava muito do que Bueno me falou de ter visto um enorme serpente cruzando o caminho e até tinha feito uma foto dela. Eu andava com cuidado e não tirava o olho do chão.


Foto de Bueno: - Olha cobra...


Ainda não tinha chegado onde estava o carro quando ouvi vozes que eram de dois garotos conversando enquanto carpiam próximo de uma cerca. O assunto deles era um "cheeseburguer" que um havia comido. Interrompi o papo deles para uma rápida conversa e o que escutei me preocupou. Quando perguntei-lhes se ainda havia um carro na estrada me disseram que sim.  Então me contaram que outra dia havia um carro roubado que trazido ali para desmanche. Preferia não ter sabido.


Um pouco adiante onde a estrada não tinha mato encobrindo, avistei uma pequena praia. Havia ali uma casa de madeira toda fechada entre a estrada e a praia.  Vi que um cara,  de mochila às costas,  caminhava pela areia. Eu o  cumprimentei com um aceno e o cara mal respondeu. Continuou caminhando com o olhar virado para a praia. Pensei que poderia ser alguém fazendo caminhada mas, pelo jeito pouco amigável não deveria ser.

Poucos metros adiante a estrada fazia uma curva para a direita e começava uma longa subida. Quando eu já estava na metade vi um outro camarada descendo. Ao me aproximar dele percebi que era uma figura um tanto estranha. Era magrão, alto e de cabelos compridos meio cacheados. Sua figura me fez lembrar o Dr. Sócrates de bermuda e camiseta naquele seu caminhar inconfundível. 
Ele parou e conversamos rapidamente. Eu lhe disse que havia desistido de continuar de caiaque e perguntei se era morador dali. Ele respondeu-me que estava indo comer um camarão com um amigo. 
Perguntei-lhe se ele era pescador quando ele falou que o mar naquele dia estava brabo e ele respondeu-me apenas que era "do mar". virou-me as costas e saiu caminhando sem olhar para trás. Puxa, será que esta é a ilha misteriosa do Lost mesmo? 

Prossegui a caminhada e depois de algumas curvas da estrada pelo meio do mato, subidas e descidas, estava quase chegando na vila que, fui saber depois, se chama Santa Luzia.  No Google Earth tem um foto indicando o lugar como Pedra do Urubu. É uma vista muito bonita.
Parei por um tempo ali,  apreciando a vista e liguei o celular. Logo atendi uma ligação do Luciano que já estava chegando e queria alguma referência para encontrar o lugar onde eu estava. Mas, eu via somente uns telhados e a BR 101 passando mais distante e eu não via nada que pudesse identificar o lugar. 
Eu só sabia dizer que, passando o rio Tijucas, começava um morro à direita e que eu estava na ponta desse morro, em uma estrada de terra. A estrada começa onde tem um bar chamado Tucano, segundo havia me informado o sr. Newton..

Resolvi ir mais um pouco na estrada e parei na metade da lomba onde eu avistava uma rua com calçamento que me parecia ser a continuação da estrada. De repente vi um carro preto aparecer na outra ponta dessa rua,  abanei os braços e o carro deu sinais de faróis. Então eu fiquei pulando no meio da estrada com o bastão de bambu no alto. 
O carro parou onde eu estava e o Luciano desceu acompanhado da amiga Sílvia que queria conhecer o seu pai caiaqueiro, hehe


Depois de apresentações e cumprimentos expliquei como era a estrada e os cuidados que deveríamos. O Luciano que já estava um pouco apreensivo com aquele início da estrada, ficou mais preocupado ainda com o que eu falei de como estava mais adiante. Lá adiante é que era o problema. 


Subimos aquela lomba até a pedra do Urubu e descemos uma outra grande lomba. Passamos em frente da praia e aquela casa fechada e lá  estavam os dois camaradas que havia encontrado no caminho com uma panela sobre um fogo de chão. Dei um aceno e perguntei como estava o camarão.


Quando chegamos nos pontos mais  complicados,  eu desci do carro para orientar o Luciano a transpor os obstáculos e percebi que, agora, ele havia ficado mesmo apavorado com a estrada. 
Assim foi até que até que chegamos onde estava o gol. Trocamos a bateria e o carro funcionou novamente.


Antes de sairmos, surgiu um senhor com um grande facão na cintura acompanhado de dois meninos que eram aqueles com quem conversei no caminho. Era o avô deles e logo foi contando dos vários casos de roubo de carro, de assaltos e desmanche de carros que ocorriam naquela estrada. Falava sem parar e nada que eu estivesse gostando de ouvir pois, tínhamos dois carros, além de eu estar com  meu filho e sua amiga. Como ele não parava de contar sobre assaltos eu liguei o carro e fui andando.


A estrada seria pior dali em diante e com certeza não chegaríamos até o acampamento na praia. Minha previsão era que fôssemos até uma grande pedra no meio da estrada e com largura suficiente para manobrar os carros. Dali até os barcos seria uns 500m.


Eu seguia à frente e procurava orientar o Luciano para passar exatamente onde eu tinha passado. Algumas vezes descia do carro e voltava para ajudar  no caminho até que chegamos na tal pedra. Deixamos os carros e fomos carregar os barcos. O Luciano ajudou trazer o meu e depois o do Bueno . Sílvia, que se encantara com as águas das cachoeiras, nos ajudou carregando sacos estanques e tralhas. Fui até os cães lhe mostrar-lhe como estavam os cães amarrados.


De volta aos carros, tudo carregado, caiaques amarrados eu fui saindo com o carro para dar espaço de manobra para o Luciano no canto da pedra. 
Carros alinhados e, demos a partida. 






O retorno foi complicado tanto quanto na ida. Sofremos com as pedras, desníveis e inclinações do carro que às vezes parecia que ele ia tombar. Em muitos trechos o Bueno desceu para me orientar qual seria o melhor caminho e também o Luciano que seguia atrás.















Saímos das sombras das árvores que cobriam a estrada  e cruzamos  na frente da prainha onde tem a casa e os caras que estavam cozinhando camarão.  Logo adiante começava uma subida longa onde eu encontrei aquele magrão parecido com o Sócrates.
O carro subiu até próximo do topo e não foi mais. O Luciano esperava lá embaixo e enquanto tentei duas vezes sem conseguir. Então ele passou a minha frente e conseguiu facilmente pois o motor é 1.6 e parou o carro no final da lomba. 
Tentei mais uma vez embalando lá de baixo mas, quando cheguei no mesmo ponto já não tinha velocidade e começou patinar de novo. Resolvemos  então ir de ré. Quando cheguei no mesmo ponto patinou novamente e não venceu a subida, mesmo com o Luciano e o Bueno empurrando no capô. 
Nesse momento parou uma Eco Sport e dois amigos vieram nos ajudar. Foi quando o carro venceu a lomba. O que não dava para aguentar era o cheiro de embreagem queimada que vinha do motor com uma forte fumaça.


Enquanto durou aquelas tentativas de vencer a grande lomba notei que os dois se aproximaram de nós mas, ficaram parados no meio da lomba sem nos oferecer ajuda. Achei estranho.







A preocupação nossa era que o carro poderia derrapar para fora da estrada e cair no barranco mas, felizmente, não aconteceu. Subimos a grande lomba e dali em diante foi sem problemas.  
Passamos pela  Pedra do Urubu e descemos a última lomba que foi onde esperei o Luciano e entramos na vila. Logo que vimos uma lanchonete paramos e o Bueno comprou refrigerantes para tirar a poeira e amenizar o calor. Sentados a mesa da calçada olhei o nome da lanchonete: TUCANO.


Tomamos o refrigerante e fomos mais adiante em uma padaria que servia pastéis muito bons que o Luciano e a Sílvia já haviam experimentado na chegada a Santa Luzia. Eram mais  de três horas da tarde e o nosso almoço seria aquele lanche. 


Depois do lanche nos despedimos, agradecendo pela ajuda  e caímos na estrada. O Luciano foi nos acompanhando até entrada de Florianópolis e de lá nós seguimos em frente enquanto eles foram para casa.


BR101aqui vamos nós até em casa.


***


Vejam relatos da última etapa da remada da qual não participamos:


http://leonardoesch.blogspot.com/2012/02/horas-de-tensao-e-o-final-da-remada.html

***


Agradeço ao amigo Fernando Bueno a permissão de uso da suas fotos que muito bem ilustraram a postagem. Eu não tinha visto essas  fotos e quando as recebi,  achei que elas  encaixavam exatamente no texto que eu já havia escrito.


Agradecemos a ajuda do meu filho Luciano que embora não participa das caiacadas, está sempre me socorrendo quando preciso. 
Também agradecemos a companhia e ajuda da Sílvia que espero encontrar novamente remando, numa pedalada ou, numa caminhada de estrada como aquela que estivemos.


Agradecemos também a todos do grupo da grande remada que fizemos e, em especial ao Bueno que passou todo esse sufoco do resgate da praia da Ponta Grande que me parecia a ilha do "LOST".




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3 comentários:

Jair Romagnoli disse...

Mas que barbaridade !!!
Merecia participar do "Histórias Curtas 2012"
O prêmio é de R$40mil pra reformar o teu Gol.
Pena que as inscrições já encerraram !!

Tiane disse...

Que aventura, heim Germano? Essa fica para a história. Também não gostei da situação daqueles cães de lá, mas fazer o quê, né? Que bom que preparaste uma jantinha pra eles! Bjinho!

fernando Bueno disse...

Na série Lost, o pessoal deixou a ilha, e mais tarde teve que retornar... Será que vamos ter que voltar também??? Grande aventura!!! Valeu!!!

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